Nos seus artigos e contos, Monteiro Lobato revelou aspectos da realidade brasileira que a maioria dos intelectuais de seu tempo desprezava. O exemplo maior dessa produção literária engajada, Jeca Tatu, nascido em 1914 no artigo Urupês, se tornaria um personagem-símbolo. Preguiçoso e indolente, Jeca fora em parte ditado pelo descontentamento do fazendeiro Lobato frente ao insucesso de suas iniciativas agrícolas nas terras já esgotadas, herança do avô.
Quatro anos mais tarde, ao entrar em contato com estudos sobre saúde pública, ele revê suas idéias sobre o homem do campo, reformulando a imagem do Jeca. Se em 1914 o escritor pintava o caboclo como o retrato do conformismo, agora descobre que a apatia provinha do subdesenvolvimento, da fome e da exclusão social. Na década de 1940 Monteiro Lobato dá mais uma guinada e passa a ver o camponês não mais como um ser passivo, e sim como agente da própria história. Aquele seu Jeca Tatu ressurge como um trabalhador sem terra, cujo inimigo maior chama-se “latifúndio”, e luta pela Reforma Agrária. Lançado pela Editorial Vitória em 1947, com ilustrações de Percy Deane, e publicado como folhetim no jornal comunista Tribuna Popular, Zé Brasil narra o sonho de Luis Carlos Prestes sobre um lugar onde os lavradores seriam donos de um sítio, plantando e colhendo os frutos de sua labuta.
Não é de se estranhar que o livreto de 24 páginas tenha sido apreendido em sucessivas investidas policiais no governo Dutra. Edições clandestinas pipocaram pelo país, e no ano seguinte, em 1948, sairia uma versão ilustrada por Cândido Portinari pela Calvino Filho.