Curioso de nascença, desde pequeno Monteiro Lobato procurava aprender o máximo sobre as coisas. Visíveis ou imaginárias. E não era só nos livros que buscava respostas. Gostava de saber como as pessoas pensavam. Observava a natureza e descobria seus mistérios. Com tanto conhecimento acumulado, é claro que ele adorava dar palpites sobre todos os assuntos. Tentava mudar o que achava errado, melhorar o que já estava bom. E criava frases. Frases que davam a medida exata do tamanho do seu pensar e que estimulavam o leitor a continuar sonhando.
"Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira - mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum." (Mundo da Lua, 1923)
"Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar." (Carta a Godofredo Rangel, Rio de Janeiro, 7/5/1926)
"Um país se faz com homens e livros." (América, 1932)
"Nada de imitar seja lá quem for. (...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir." (Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 15/11/1904)
"Ele é isso. Corre na frente com o facho, a espantar todos os morcegos e corujas e a semear horizontes." [sobre o filósofo alemão F. Nietzsche] (Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 24/8/1904)
"Porque tenho sido tudo, e creio que minha verdadeira vocação é procurar o que valha a pena ser." (Carta a Godofredo Rangel, Nova York, 28/11/1928)
"Meu plano agora é um só: dar ferro e petróleo ao Brasil." (Carta a Godofredo Rangel, Nova York, 17/8/1927)
"O caboclo é o sombrio urupê de pau podre (...) Só ele não fala, não canta, não ri, não ama. Só ele, no meio de tanta vida, não vive." [sobre Jeca Tatu] (Urupês, 1ª edição, 1918)
"Está provado que tens no sangue e nas tripas um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que não." [sobre Jeca Tatu] (Urupês, prefácio à 4ª edição, 1919)
"O que mais aprecio num estilo é a propriedade exata de cada palavra." (Carta a Godofredo Rangel, Areias, 30/8/1909)
"Tentei arrancar de mim o carnegão da literatura. Impossível. Só consegui uma coisa: adiar para depois dos 30 o meu aparecimento. Literatura é cachaça. Vicia." (Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 16/6/1904)
"Aqui jaz um homem que nunca leu a 'Brasiliana' nem ouviu a Hora do Brasil." (Entrevista ao Jornal de São Paulo, 1946)
"A história dos historiadores coroados pelas academias mostra-nos só a sala de visitas dos povos. (...) Mas as memórias são a alcova, as chinelas, o penico, o quarto dos criados, a sala de jantar, a privada, o quintal (...) da humanidade." (Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 9/5/1913)
"O que não somos nunca é ovelha - fiel ovelha do Santo Padre, de Sua Majestade o Rei, do Partido, da Convenção Social, dos Códigos da Moral Absoluta, do Batalhão, de tudo que mata a personalidade das criaturas." (Carta a Godofredo Rangel, Fazenda, 7/6/1914)
"As fábulas em português (...) são pequenas moitas de amora do mato, espinhentas e impenetráveis. Um fabulário nosso, com bichos daqui em vez dos exóticos, se feito com arte e talento, dará coisa preciosa." (Carta a Godofredo Rangel, Fazenda, 8/9/1916)
"Continuo traduzindo. A tradução é minha pinga. Traduzo como o bêbado bebe: para esquecer, para atordoar. Enquanto traduzo, não penso na sabotagem do petróleo." (Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 15/4/1940)
"Passei nesta prisão, General, dias inolvidáveis, dos quais me lembrarei com a maior saudade. Tive o ensejo de observar que a maioria dos detentos é gente de alma muito mais limpa e nobre do que muita gente de alto bordo que anda à solta."(Carta a Horta Barbosa, presidente do Conselho Nacional do Petróleo, abril de 1941)
"Estou condenado a ser o Andersen desta terra - talvez da América Latina." (Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 28/3/1943)
"Todos os nossos males, econômicos, financeiros e morais, (...) provêm de uma causa única: pobreza, anemia econômica. Vou além: miséria." (Carta a Alarico Silveira, Nova York, 3/5/1928)
"No fundo, o que há contra mim é inveja em conseqüência de minha vitória comercial nas letras. Até o fim do ano, passo dos 2 milhões em minhas tiragens." (Carta a Jaime Adour da Câmara, São Paulo, 10/5/1946)
"Há dois modos de escrever. Um, é escrever com a idéia de não desagradar ou chocar ninguém (...) Outro modo é dizer desassombradamente o que pensa, dê onde der, haja o que houver - cadeia, forca, exílio." (Carta a João Palma Neto, São Paulo, 24/1/1948)
"No fundo não sou literato, sou pintor. Nasci pintor, mas como nunca peguei nos pincéis a sério, arranjei, sem nenhuma premeditação, este derivativo de literatura, e nada mais tenho feito senão pintar com palavras." (Carta a Godofredo Rangel, Areias, 6/7/1909)
"A primeira vítima da televisão vai ser a velha e boa Saudade, que no fundo é filha da Lentidão e da Falta de Transportes. A saudade desaparecerá do mundo. Em breve futuro a palavra 'longe' se tornará arcaísmo." (Carta a Godofredo Rangel, Nova York, 17/8/1928)
"Depois que me vi condenado a seis meses de prisão, e posto numa cadeia de assassinos e ladrões só porque teimei demais em dar petróleo à minha terra, morri um bom pedaço na alma." (Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 17/9/1941)
"O certo em literatura é escrever com o mínimo possível de literatura. (...) a mim me salvaram as crianças. De tanto escrever para elas, simplifiquei-me." (Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 1/2/1943)
"Acho a criatura humana muito mais interessante no período infantil do que depois de idiotamente tornar-se adulta." (Entrevista a Celestino Silveira, anos 40)
"Futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural." (Idéias de Jeca Tatu, 1919)
"O verdadeiro amigo de um pintor não é aquele que o entontece de louvores; mas sim o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz chãmente, sem reservas, o que todos pensam dele por detrás." (Idéias de Jeca Tatu, 1919)
"A natureza criou o tapete sem fim que recobre a superfície da terra. Dentro da pelagem desse tapete vivem todos os animais, respeitosamente. Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem." (Miscelânea, 1946)
"O meio de combater uma idéia é lançar ao seu encontro uma idéia melhor. (...) Nunca no mundo uma bala matou uma idéia." (Prefácio a Georgismo e comunismo, 1948)
"Porque para o homem o clima 'certo' é um só: o da liberdade. Só neste clima o homem se sente feliz e prospera harmoniosamente. Quando muda o clima e a liberdade desaparece, vem a tristeza, a aflição, o desespero e a decadência." (O Minotauro, 1939)
"A mulher não é inferior nem superior ao homem. é diferente. No dia em que compreerdemos isso a fundo, muitos mal-entendidos desaparecerão da face da terra." (Prefácio ao livro No carinho da luz, de Josefina Sarmento Barbosa, 1921)
"Assim como é de cedo que se torce o pepino, também é trabalhando a criança que se consegue boa safra de adultos." (Carta a Vicente Guimarães, Campos do Jordão, 12/1/1936)
"Escrever é gravar reações psíquicas. O escritor funciona qual antena - e disso vem o valor da literatura. Por meio dela, fixam-se aspectos da alma dum povo, ou pelo menos instantes da vida desse povo." (Na Antevéspera, prefácio à 1ª edição, 1933)
"A coisa que menos me mete medo é o futuro." (Carta a Godofredo Rangel, Rio de Janeiro, 8/11/1925)